O mundo corporativo mudou nos últimos 4 anos. Quando falamos de 2020 em diante, a primeira coisa que nos vem à mente é a pandemia e como ela influenciou mudanças radicais nas empresas, com a adoção – ou não – de home office e assuntos relacionados. Mas essa não é a mudança abordada aqui. Outras pautas também ganharam relevância desde 2020 e impactaram diretamente o mundo corporativo.
Duas delas, eu cito e correlaciono aqui: o aumento significativo no número de empresas que se denominam negócios de impacto, e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD, ou Lei 13.709/2018), que entrou em vigor em 2020 e, desde agosto de 2021, pode aplicar sanções administrativas. Se você ainda se pergunta como esses dois assuntos estão relacionados e qual é a importância de falarmos sobre isso, então você não refletiu o suficiente sobre mensuração de impacto.
Como em qualquer empresa, um negócio que tenha o impacto socioeconômico como produto precisa comprovar sua eficiência a clientes, investidores e outros stakeholders de seu ecossistema. A mensuração de impacto é a maneira mais eficaz de fazer isso, mas ela vem acompanhada de um desafio muito particular dos negócios de impacto: a sensibilidade dos dados, quando o impacto envolve pessoas. Este é o caso do Impact Hub e de seus projetos de educação empreendedora.
Para calcular o impacto de cada uma das turmas rodadas pelo Salto Aceleradora, por exemplo, partimos de algumas premissas: se aceleramos o negócio de um pequeno empreendedor, este impacto tem um peso. Mas, se aceleramos os resultados de uma pequena empreendedora, que em geral tem rendimentos menores que homens empreendedores, então este impacto é outro.
Da mesma forma, há diferenças significativas entre os resultados de pessoas empreendedoras brancas e negras, ou de pessoas heterossexuais e pessoas pertencentes à comunidade LGBTQIAP+.
Com essa premissa – validada por dados, é claro – em mente, nós medimos os resultados ao fim de cada turma para entender se, além de acelerar pequenos negócios, nós conseguimos impactar pessoas empreendedoras desses grupos minorizados. E só existe um jeito eficaz de fazer isso: perguntando.
No início de cada turma, nós rodamos um questionário que vai viabilizar a mensuração de impacto, e coletamos dados extremamente sensíveis: raça autodeclarada, identidade de gênero, faturamento atual, número atual de clientes e outros.
Cada um desses dados são considerados sensíveis pela LGPD e, portanto, precisam de atenção redobrada com a segurança. Ao final de cada turma, o mesmo questionário é rodado, as informações são comparadas e um relatório de impacto é enviado ao financiador das turmas.
O termo “dicotomia” é bastante forte. Ele indica a divisão de um todo em duas partes, em que tudo deve pertencer a um grupo ou ao outro. O caso dos dados sensíveis e a mensuração de impacto se encaixa melhor em um outro conceito emprestado da matemática: o Diagrama de Venn. Há uma intersecção entre as partes, e tudo deve ser pensado considerando isso.
Aqui, as boas práticas que adotamos vão desde um termo de consentimento explícito, em que explicamos para que cada dado será utilizado, até a anonimização dos dados, o armazenamento em um ambiente seguro na nuvem e a organização de todos os processos e pastas, com diferentes níveis de acesso e com total rastreabilidade dos dados.
É sim um processo difícil e é um desafio manter toda a equipe alinhada, ciente de tudo o que precisa ser feito constante e repetidamente para manter a segurança. Um desafio que, eu ouso dizer, só é superado porque todas as pessoas que estão envolvidas no processo se importam, de fato, com a pessoa por trás do dado. Nunca é apenas sobre o dado que pode vazar. É sobre o impacto negativo que um vazamento pode causar justamente na vida de quem nós queremos impactar positivamente.
E tudo passa a valer a pena quando vemos resultados como os do nosso último Relatório de Impacto do Salto Aceleradora.
O Salto Aceleradora é um programa de educação empreendedora e geração de renda que faz parte do Hub Inclui, nossa área de soluções de inclusão produtiva. O programa visa impulsionar o desenvolvimento socioeconômico local apostando na aceleração e no crescimento do micro e pequeno empreendedor local.
Sua metodologia, criada e desenvolvida pelo Impact Hub Floripa, combina o melhor da andragogia (ensino para adultos) com o melhor das aceleradoras de startups. Sua realização só é possível com o apoio de parceiros estratégicos, dentre os quais destacam-se Sebrae, Sicredi, JP Morgan e OIM, além, é claro, de outros Impact Hubs locais.
O programa já acelerou micro e pequenos negócios das cinco regiões do Brasil e, só no ano de 2023, foram mais de 1.200 empreendedores impactados, dos quais 71,3% declararam ter percebido aumento médio de faturamento mensal. A metodologia de mensuração e acompanhamento do Salto Aceleradora também conseguiu fomentar a criação de 173 novos empregos formais e a geração de mais de 8.712 novos clientes para os saltitantes acelerados.